Mexidas na Rua de Costa Cabral continuam a não agradar a comerciantes do Porto

A circulação na maior rua do Porto tem vindo a ser alterada. Enquanto os comerciantes olham para as mudanças com desagrado, o município faz um balanço positivo.

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Ao longo da Costa Cabral observam-se mais linhas contínuas do que antes. A acompanhá-las, surgem vários pinos que impedem ultrapassagens e coordenam o trânsito. Os comerciantes da rua queixam-se que, além de não terem sido ouvidos pela Câmara Municipal do Porto (CMP), as medidas aplicadas estão a prejudicar os negócios.

Para Manuel Pereira, barbeiro com loja nesta rua, “é preciso tirar os mecos e pôr como antigamente, demovendo a vereadora” com o pelouro da mobilidade, Cristina Pimentel. Rui Borges, sócio gerente de um café, também considera que “havia outras formas de tentar minimizar o estacionamento proibido” e sugere que o policiamento de proximidade podia ser uma solução: "Se andassem polícias todos os dias afugentavam os dez ou 20 infractores que aí andam” a estacionar ilegalmente e a entupir esta rua estreita mas de importância crucial para a circulação nesta zona da cidade.

Mas se Alfredo Miranda, proprietário de uma tabacaria há um ano, garante que nunca viu “passar nenhum polícia a pé”, Paulo Magalhães, agente comercial numa loja de peças automóveis, adianta que se há algum “condutor parado vem logo a polícia para multar”, o que lhe tem afastado os clientes. Antes o estabelecimento costumava estar sempre cheio mas esta segunda-feira não havia um único cliente. “Alteraram a circulação na rua mas não foi para melhor. Limitaram-se a pôr pinos em frente a tudo o que é loja”, queixa-se. Para além disso, os espaços próprios para “as cargas e descargas roubam lugares antes usados para estacionamento”.

Quando feitas em plena via, essas mesmas cargas e descargas são um dos principais factores a dificultar a vida aos que transitam na Rua de Costa Cabral. Basta que um carro – ou, muitas vezes, camião – pare para descarregar e a situação complica-se. Foi o que aconteceu quando uma grande carrinha parou perto de um mini-mercado para deixar lá alguns produtos. “Lidamos com cargas e descargas todos os dias”, explicou a funcionária do estabelecimento, preferindo não se identificar. Enquanto dois homens traziam os produtos para o interior da loja, a empregada explicou que se trata de uma “situação muito difícil que ninguém compreende”. Quando questionada acerca dos novos lugares de estacionamento, admitiu que não sabiam onde ficavam, “mas que perto não são”.

Marco Carvalho, director do Colégio Júlio Dinis, nessa rua, admite que a câmara agiu bem com o colégio mas compreende a situação difícil vivida pelos comerciantes. “Deram-nos dois lugares de cargas e descargas e substituíram as barras de protecção lá fora para as crianças, mas percebo e acredito que haja situações bem mais dramáticas”. Para já, considera que o projecto implementado “harmonizou o trânsito, tem funcionado bem”. No entanto, grande parte dos lugares para estacionar está fora da rua, o que dificulta o transporte dos produtos até às lojas sejam elas talhos, peixarias ou de venda de mobiliário.

Francisco Carneiro é o proprietário de uma carpintaria nesta artéria. Para além da fábrica, tem, poucos metros depois, uma loja onde vende os seus móveis. “Se fosse agora, nunca tinha aberto uma loja ali. Achei que era uma boa ideia porque esta era uma rua com movimento. Agora, as pessoas têm medo de parar”, lamenta. O comerciante fala de uma “grande quebra de vendas” que, no fim do mês, lhe dá “uma mão cheia de nada”, independentemente dos esforços realizados. Para além disso, acrescenta Francisco Carneiro, “muitos negócios locais estão a fechar ou já fecharam. Se já estávamos carentes de clientes, agora muito mais”.

Esta segunda-feira era dia de greve da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) pelo que não havia autocarros do Porto a circular nas faixas que lhes estão destinadas. Este transporte público é o mais beneficiado com as alterações. “Se quiserem criar uma via rápida só para autocarros, esta é a forma ideal”, explica ainda Francisco Carneiro, apontando para faixa exclusiva para autocarros que existe em frente ao seu estabelecimento – a única que, nessa parte da grande rua, tem o sentido Circunvalação – Marquês. Almiro Carvalho, taxista, admite que os autocarros “têm agora mais via verde” mas considera que os pinos foram uma boa medida para a Rua de Costa Cabral. “Há menos pessoas a passar aqui de carro por isso o trânsito melhorou”. Assim, mesmo com menos passageiros, revela que as viagens realizadas são “mais rápidas, faz-se melhor o caminho e gasta-se menos gasóleo”.

Também Fátima Pinheiro está de acordo com a introdução dos pinos na Rua de Costa Cabral. A florista admite que “era preciso, porque as pessoas abusam”. Para além disso, considera que “é bom que os lugares de cargas e descargas em frente às lojas tenham aumentado mas é preciso que favoreçam todos. Não podemos ter cinco ou seis no mesmo sítio e nenhum aqui”. Os estacionamentos com parquímetros podiam ser uma solução, avança. Para já, lamenta que as pessoas, “como não têm onde parar, já não venham”.

O gabinete de comunicação da câmara considera “demasiado prematuro fazer o balanço, numa altura em que nem todas as medidas estão implementadas – nem as que estão previstas pelo município nem as propostas que entretanto os comerciantes fizeram chegar, que foram muito bem recebidas”. A mesma fonte explica que “é preciso que as pessoas se habituem à nova realidade, mesmo que isso demore umas semanas ou mais de um mês”. A autarquia mostra-se disponível para proceder a alterações ao plano inicialmente previsto mas acrescenta que, até agora, “o balanço é altamente positivo, pois não foram registados acidentes desde o início deste processo”. E este era, efectivamente, um dos pontos negros na rede da STCP.

Os comerciantes estão organizados numa comissão que pretende apresentar novas soluções para o trânsito na Rua de Costa Cabral e, nesta terça-feira à tarde, discutem-se novas propostas, adiantaram alguns deles ao PÚBLICO. Fonte do Gabinete de Comunicação da câmara explicou que o principal problema que está a ser debatido no momento são “os lugares de estacionamento nas ruas adjacentes”, que estão a ser aumentados face à proposta inicial.

As alterações ainda não estão concluídas mas, com o plano, o município espera diminuir o estacionamento abusivo e o número de acidentes nos três quilómetros da Rua de Costa Cabral. Em Abril, quando anunciou as novas medidas, a vereadora da Mobilidade, Cristina Pimentel, explicou que, para além da instalação de 149 pinos de borracha, iam ser criados 90 lugares de estacionamento legais e 67 espaços de cargas e descargas. Algumas paragens de autocarro foram reposicionadas e colocaram-se guardas metálicas de protecção adequadas às crianças à frente das escolas. 

Texto editado por Ana Fernandes

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